Desvio também é caminho
O primeiro contato que tive com a Filosofia foi no ensino fundamental. Se não me engano, foi lá pela sétima série que um professor me fez achar muito interessante todo aquele papo de pré-socráticos e elementos da natureza, de Sócrates e “conhece-te a ti mesmo”, de Platão, mito da caverna e mundo das ideias. Depois, quando entrei na faculdade de Comunicação, minha primeiríssima aula foi de Filosofia I. Mais uma vez me vi envolvida com aquele universo instigante. E então vieram as aulas de Filosofia II, Estética, Lógica. Ao longo de vinte e poucos anos, foram diversas as vezes em que tive contato com a Filosofia, sempre como uma disciplina em cursos de graduação e pós-graduação. Além disso, quando cursava Design Gráfico, eu assinava uma revista de Filosofia. E sempre dizia que um dia iria fazer faculdade de Filosofia.
Um dia.
Esse dia chegou só em 2017. Eu havia acabado de perder minha mãe e senti a urgência de fazer o que estava adiando por anos a fio – aquela urgência que a gente só sente quando a morte chega tão perto (ainda que por meio de alguém próximo) que não dá mais para ignorá-la. Foi quando decidi realizar dois desejos antigos: o de ter uma vida voltada para a escrita e o de estudar Filosofia – uma coisa complementando a outra.
E por que estou me lembrando disso hoje? Porque ontem fui buscar meu diploma. E quando li “(...) confere o título de Bacharela em Filosofia a Márcia Silveira Costa”, eu me lembrei dessa história toda, de como a minha história com a Filosofia vem de longe, apesar de parecer recente. O primeiro contato, aquele do ensino fundamental, foi por volta de 1992. E eu terminei a faculdade no ano passado, 2021.
Dizem que tudo tem uma hora certa para acontecer. Eu confesso que sou ligeiramente pessimista e em muitos momentos tendo a achar que “perdi muito tempo” fazendo as coisas “erradas” – ainda que eu gostasse muito dessas coisas também. Lembro que quando decidi cursar Filosofia, meu marido disse: É, você sempre falou que um dia faria essa faculdade. E eu pensei cá comigo: Então por que não fiz antes?? De qualquer forma, hoje estou me sentindo contente por finalmente ter feito a coisa “certa”, aquela que por tantos anos desejei.
A vida tem desses desvios (e aspas).
O que estou ouvindo
O podcast Projeto Querino é bom demais e muito importante – todo mundo deveria ouvir. Através de muita pesquisa e com depoimentos de historiadores, o criador do projeto, Tiago Rogero, traz à tona o protagonismo negro na história do país e explica como o Brasil se tornou o que é hoje.
No descrição do Portal Geledés:
“A ideia é refletir sobre como a escravidão formou o Brasil, país que recebeu cerca de 5 milhões dos 12 milhões de pessoas trazidas à força da África. Foi o maior contingente das Américas. A data para o lançamento de “Querino”, aliás, não foi escolhida ao acaso. Este ano marca o bicentenário da independência do Brasil, evento que é tema do primeiro episódio do podcast.
Aqui, é possível perceber que pessoas negras estão no centro da narrativa, e não mais às margens da história. Exemplo disso pode ser encontrado já no nome do podcast, batizado em homenagem a Manuel Raimundo Querino, intelectual negro considerado o primeiro historiador da arte baiana.”
Pré-venda
Tive o prazer de escrever o texto de apresentação da obra “A estranha mania das abelhas”, da escritora maranhense Rute Ferreira. A autora pegou emprestadas algumas personagens femininas de “Triste fim de Policarpo Quaresma”, do Lima Barreto, e escreveu contos inspirados nelas.
O livro está em pré-venda até o dia 06/10 no site da editora Urutau. Dá para comprar o digital, físico, com ou sem autógrafo... Tem diversas opções no site, é só escolher. :)
Trecho de um livro
“Quando meu pai precisava pegar o turno da madrugada, minha mãe acordava para servi-lo, mesmo quando estava doente, estafada ou quando não sentia a mínima vontade. Enquanto separava os pães, pegava a manteiga, talvez pensasse ‘eu tenho que fazer porque ele já fez muito’. A sensação de gratidão imposta pela subalternidade. Aquele amor veiculado pelos programas de TV – que supostamente ajudam as pessoas pobres –, subordinado, que sempre coloca a mulher numa posição de retribuição, de agradecimento. Na primeira tentativa de libertação, porém, corre-se o risco de ser taxada de ingrata.”
Djamila Ribeiro, em Cartas para minha avó*
* Link comissionado
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Até o próximo dia 23 (ou não…rs)!
Márcia S.