Por muito tempo, eu me senti paralisada na hora de escrever crônicas. Um dos motivos era achar que meus textos eram muito melancólicos – e no primeiro texto do meu livro "Inventário de vagas lembranças” eu falo sobre isso e sobre o que me ajudou a mudar esse pensamento (ou não).
Mas aqui quero falar sobre outro motivo que me levava a esse bloqueio: minha memória ruim. Muitas vezes eu pensava em escrever sobre um acontecimento da infância, mas me autocensurava, por não confiar na memória. Será que foi assim mesmo que aconteceu? Somado a isso estava o fato de que tenho irmãs mais velhas, que poderiam – elas sim – se lembrar daquelas situações. Eu as imaginava lendo meus textos e dizendo:
Márcia, tá louca?
(Bem, elas não falariam assim, mas deu pra entender o drama, né?)
De tanto pensar, desistia e só me arriscava a pôr no papel os acontecimentos mais recentes.
Mas um dia entendi que a memória é assim mesmo, ela prega umas peças na gente. Eu poderia perguntar às minhas irmãs sobre os episódios em questão, mas então estaria escrevendo sobre as memórias delas, e não as minhas.
Assim, decidi que escreveria sobre o (pouco) que me lembrava, sabendo que as lacunas seriam preenchidas pela imaginação. A autocensura continuava me perturbando, claro, então vários textos eram escritos e rapidamente arquivados, porque ali, escondidos numa pasta do computador, estariam a salvo dos olhares alheios. Algumas vezes, sempre desconfiada de minha memória, escrevi sobre alguns episódios como se fossem contos, mudando os nomes das pessoas envolvidas e deixando a imaginação voar ainda mais.
Até que, quando vi a chamada de originais da editora Penalux, achei que seria uma boa ideia fazer um compilado dessas minhas “vagas lembranças” e enviar. Não sabia se meu livro seria aprovado para publicação, mas acabei gostando do processo de reler e selecionar os textos que fariam parte do projeto.
Foi assim que nasceu o “Inventário de vagas lembranças”, meu livrinho (chamo assim não com desdém, mas com carinho) de crônicas. À surpresa da aprovação, mais tarde somou-se a alegria de ver uma colagem minha na capa, quando recebi a prova digital do livro (mas isso é assunto para um outro dia).
Tenho a impressão de que, dentro das páginas deste “Inventário”, minhas (não-)memórias (como escreveu Myriam Scotti na orelha do livro) ainda estarão parcialmente protegidas – mais do que estariam no mundo virtual. De qualquer forma, segue o receio de, em algum momento após o lançamento do livro, meu telefone vibrar e de repente surgir na tela uma curta mensagem:
Márcia, tá louca?
Inventário de vagas lembranças já está em pré-venda pelo site da editora.
Para ler a sinopse e garantir o seu, é só clicar aqui. :)
P.S.: Já escrevi aqui sobre os motivos para essa newsletter se chamar Página 23. E logo que soube da aprovação do livro para publicação, veio o pensamento: não é uma super coincidência meu primeiro livro ser publicado em 2023?
Obrigada por ler a Página 23! Inscreva-se para receber:
Até o próximo dia 23!
Márcia S.
Minha próxima leitura!!!