Ouço meu filho tocando guitarra no quarto dele. O cachorro do apartamento ao lado do nosso late há alguns minutos em resposta a outro cachorro da vizinhança. Uma sinfonia. Aqui costumo ouvir também muitos pássaros. Outro dia estava em um consultório médico perto daqui e, de repente, a médica disse: “Ele tá concorrendo comigo a manhã toda; eu falo, ele responde.” Demorei alguns segundos até entender que ela se referia a um pássaro que, pousado do lado de fora da janela, piava a cada vez que ela falava. Percebi que eu não estava prestando atenção, que já havia normalizado o som dos pássaros, de tanto ouvir. Só não consigo me acostumar ao grito das maritacas, sempre em bando, lindas, porém, escandalosas.
Enquanto meu filho toca rock, estou no cômodo da casa que chamo de escritório, o que, para a Kity, minha amiga e arquiteta que projetou esse espaço, é quase uma heresia: “Escritório, não! Não chama de escritório, é bi-bli-o-te-ca!”
Certo, então. Estou na minha biblioteca e, enquanto escrevo estas palavras, sou tomada por um sentimento agridoce. Este será um dos últimos textos escritos aqui, pois eu e minha família iremos nos mudar. É difícil me despedir deste espaço que demorei tanto a ver do jeito que eu queria (foi só em 2021, depois de uma reforma, que ele se transformou nessa biblioteca organizada por temas). É o cômodo que mais tem a minha cara, é o meu lugar. Porém, apesar da tristeza, sei que no novo apartamento terei outro escritório (bi-bli-o-te-ca!), também lindo, também projetado pela Kity; um novo espaço onde irei me inspirar para seguir escrevendo.
Quais serão os sons do nosso novo lar? Ainda não sei se por lá ouvirei cantos de pássaros. Mas sei que, em alguns momentos, sentirei saudades desse apartamento onde moramos durante quinze anos. E talvez, vai saber, em certos dias eu sinta falta até do escândalo das maritacas e da sinfonia dos cachorros da vizinhança.
Crônica
Leia na Revista Desvario uma crônica na qual é citado este apartamento onde moro desde que meus filhos eram pequenos.
Outras páginas
- compartilhou sugestões para destravar a escrita.
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- e uma oficina de escrita que utiliza o tarô como ferramenta criativa.
Meus livros
Dona das Dores, meu primeiro romance, está em produção (tô ansiosa) e logo estará à venda pelo site da editora Urutau.
Meu livro de crônicas Inventário de vagas lembranças (Penalux, 2023) está à venda pelo site da editora e pela Amazon. Se você preferir comprar diretamente comigo (autografado, com postal e marcador), é só me responder esse e-mail ou enviar uma mensagem pelo Instagram. ;)
Por hoje é só. Obrigada por ler a Página 23! :)
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Até a próxima edição!
Márcia S.
Marcinha,.espero que seu novo lar lhe traga além de conforto, muitas novas histórias pra contar, escrevendo em sua nova biblioteca, com sons de pássaros, da natureza e novas memórias que farão parte da história de sua família! Bjss
Os sons também me pegam! Me lembrou de uma crônica que escrevi sobre isso, a partir de alguns sons que também ouço do alto do meu ap. Com certeza, você encontrará novos sons na nova morada! Bjs